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A Viagem: filme acerta na ousadia e no tom crítico, mas perde tempo ao lidar com muitas histórias paralelas

“De cada crime e ato generoso, nasce nosso futuro” e “Eu não me submeterei a abusos criminosos”, frases como estas funcionam como uma espécie de ‘mantra’ e dão o tom da narrativa. Com um formato nada convencional, A Viagem acerta na crítica atroz e na inovação roteirística, mas o que é uma qualidade também pode ser um problema. Ao tentar dá conta de muitas situações paralelas, beira o confuso, deslize que poderia ser suavizado por uma edição mais criteriosa.
 
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Imagem Filmes
Dirigido por Andy Wachowski, Lana Wachowski e Tom Tykwer, A Viagem narra a trajetória de pessoas com uma marca de nascença em comum, elas se encontram em diferentes épocas e lugares e comprovam que as ações de cada um deles interfere no passado, presente ou futuro de todos. Fenômeno evidenciado pela máxima, “Do nascimento à morte estamos ligados a outras pessoas”.
 
Apesar de beber na fonte da reencarnação, o que poderia fomentar uma discussão religiosa, as reflexões feitas são pertinentes e apontam para os perigosos rumos que a sociedade toma e os erros que insiste em cometer.
 
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Personagens de Halle Berry e Tom Hanks se encontram em outras encarnações
Imagem Filmes
Desde a escravidão dos negros até o atual regime de trabalho imposto aos operários chineses, o longa levanta o debate sobre a condição humana e as relações em sociedade. Ao dar um salto até o ano de 2144, o diretor revela um olhar trágico sobre um mundo marcado pelos grandes avanços da biogenética, pela opressão e  pobreza de valores éticos.

Para evidenciar os repetitivos equívocos do homem e reiterar a importância da atitude de cada indivíduo na mudança do coletivo, o roteiro costura as tramas vividas nos anos de 1934, 1973, 2012 e para além do século 21. Neste momento, o trabalho da equipe de artes e tecnologia digital assume papel essencial e cumpre a função; cenários e figurinos de épocas passadas são revividos e graças aos recursos de computação gráfica, a mente inventiva cria universos futurísticos interessantes.

Ao investir em diferentes momentos da história da civilização, o filme ganha ritmo, mas este exagero também o deixa um pouco confuso, são 172 minutos de exibição que poderiam ser encurtados, já que algumas passagens tornam-se desnecessárias e se perdem em meio as situações chaves e de maior dramaticidade. 

Mesmo assim, A Viagem consegue lançar mão de um olhar anticonvencional, tanto na forma quanto no conteúdo e faz considerações importantes sobre as ‘verdades’ impostas pelo senso comum, mas sem adotar um caráter didático.

Prós e contras do trabalho de caracterização


Para os atores, a ideia de interpretar personagens que a principio são os mesmos, mas em épocas  e condições distintas, pode ser um exercício desafiador e também um grande prazer para quem os assiste. Neste quesito, destaque para Jim Broadbent, que vai do trambiqueiro divertido ao detestável gênio da música e Hugo Weaving que está impagável na pele da enfermeira Noakes.
 
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Jim Sturgess caracterizado e Hugo Weaving na pele da enfermeira Noakes
Imagem Filmes

As caracterizações favorecem o elenco nesta viagem artística, mas em determinados casos ficam forçadas, como na tentativa de fazer a atriz sul-coreana Doona Bae parecer uma aristocrata ruiva da década de 1930. Apesar do artifício, a sensação de repetição pode ser inevitável, afinal é o mesmo grupo de artistas. 

Mesmo assim a experiência tem seu lado divertido, algumas maquiagens são perfeitas e o ator fica irreconhecível, o que torna a brincadeira de adivinhação instigante.
                            

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